segunda-feira, 1 de outubro de 2018

A Pata da Gazela

A Pata da Gazela

Pensem os fisiologistas como quiserem, o pé é a parte mais distinta do corpo humano; sem ele a estatura não teria a nobreza que Deus só concedeu à criatura racional.

O pé revela o caráter, a raça e a educação. Cada uma das feições e dos gestos desse órgão de nossa vontade tem uma expressão eloqüente. Há quem não adivinhe em um pé delicado e nervoso a alma de fina têmpera? Ao contrário, um pé chato e pesado é a prova infalível de um gênio tardo e pachorrento.

Vergílio, o poeta mais elegante que tem existido, compreendeu que Vênus ocultasse nos olhos do filho, na selva líbica, a beleza imortal de seus olhos, de seu sorriso, de suas formas sedutoras; mas não aquilo que era sua essência divina, sua graça olímpica. Foi pelo andar que ela revelou-se deusa; et vera incessu patuit dea*.

Nunca sentiste o doce contato do pé da mulher amada? É uma sensação deliciosa que penetra no seio d’alma.

[...]

Apaixonei-me por esse pezinho, que eu nunca vira, que não conhecia. Sagrei-lhe minha alma como ao ignoto deo de minhas adorações.

(Fragmento).

José de Alencar. in. A Pata da Gazela. Ed. Ática, 1999.

Manifestou-se verdadeira deusa pelo andar. Modo como Virgílio se refere a Vênus (Eneida, 1, 405).

Fonte: Fronteiras Literárias

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